quinta-feira, 10 de maio de 2012

Ambient Music e Brian Eno

  • O que é a Ambient Music?
   A Ambient Music (Música Ambiente) é um gênero musical que incide essencialmente sobre as características timbrais de sons, muitas vezes organizados ou executados para evocar uma "atmosfera sutil", "visual" ou qualidade "discreta". Ou seja, é uma música "de acompanhamento".
Ela consiste em deixar fluir os sons não convencionais tranquilizando a nossa mente e corpo para que façamos parte dessa experiência.
   Possui um alto valor artístico que incentiva à reflexão e ao discernimento - portanto, em vez da conformidade do muzak¹ usual, a Ambient Music é altamente subversiva.

¹muzak: também conhecida como "música de elevador" - apesar de sua sonoridade ser muito parecida com a Ambient Music, ela permanece em um looping infinito, sendo assim uma música repetitiva e sem alterações, o que é contrário ao conceito da música ambiente, que parte do princípio de uma música generativa

  • História
   A Ambient Music inicia-se em meados do século XX, apesar da ideia de uma música ambiente ser muito anterior à Brian Eno, foi ele quem cunhou o termo.

"Para criar uma distinção entre meus próprios experimentos nessa área e os produtos dos vários fornecedores de 'música enlatada', criei o termo Ambient Music."

   Durante a Primeira Guerra Mundial surgem dois movimentos artísticos - Futurismo e Dadaísmo - significativos para a experimentação com várias formas musicas não tradicionais.
Estes movimentos atraíram músicos experimentais e da "anti-música" tais como Francesco Balilla Pratella do movimento do futurismo da pré-guerra, Kurt Schwitters e Erwin Schulhoff do movimento de pós-guerra, e Erik Satie (precursor da música ambiente), tendo o dadaísmo como um papel influente em seu desenvolvimento musical.

 "Poderíamos pensar nas ações dadaístas, na aleatoriedade de seu processo. No movimento Dada tem-se a abertura para o fluxo da vida e a negação de qualquer valor que transcenda a espontaneidade da criação. Com isso, o movimento toma um caráter de antiarte, refutando todo tipo de premissa que tenha como fim o objeto concebido a priori, anteriormente a sua realização na realidade. Contando com o espaço da vida, as obras dadaístas são entregues, em sua maioria, ao acaso e os objetos são esvaziados de interioridade. [...]
Se há a ausência de uma idealização abstrata ao objeto, então a vida pode ser arte e a arte pode ser a própria vida, uma vez que a externalidade da obra agora flui para fora de seu limite.
E é nesse terreno que se encontra a Música de mobiliário de Erik Satie. [...] a música de mobiliário carrega elementos que podem ser identificáveis com o Dada. [...] Se a música é feita para preencher o espaço assim como uma cadeira, como um quadro ou como qualquer outro móvel em uma sala, os ruídos da vida penetram nela e se misturam a sua melodia, inserindo sons aleatórios em sua composição."

(Oliveira, Ana Marcela França de. Acontecimento: Espaço-Tempo em Mirrored Cubes e na Música de Mobiliário.)



  •  Eric Alfred Leslie Satie(1866 - 1925)
   Eric Alfred Leslie Satie, mais conhecido como Erik Satie (Honfleur, 1866 - 1925), foi um compositor  e pianista francês. Relevante no cenário de vanguarda parisiense do começo do século XX, foi o precursor de movimentos artísticos como minimalismo, música repetitiva e teatro do absurdo.
   A música de Satie foi na altura apreciada por poucos e desprezada pela maioria dos compositores e críticos musicais. Diversas fragilidades lhe costumavam ser apontadas, a mais importante das quais se referia à sua deficiente formação enquanto compositor e pianista. Dizia-se então que as suas miniaturas musicais com escalas pouco convencionais, harmonias estranhas e uma total ausência de virtuosismo instrumental eram apenas o reflexo de um compositor de fracos recursos técnicos.
Satie foi um dos precursores do minimalismo, abolindo as estruturas complexas e sofisticadas, com absoluto despojamento e simplicidade da forma. Seu primeiro exemplo foi a peça Vexations (1893), formada por 32 compassos que se repetem 840 vezes.
   Pode-se dizer que a ideia da música ambiente foi iniciada por Satie, a música de mobília (Musique d'ameublement) é a própria concepção do que viria ser a Ambient Music.

Curiosidade:
   Satie compôs peças que eram tocadas no intervalo dos concertos, enquanto as pessoas conversavam. Segundo ele, eram músicas que faziam parte dos ruídos naturais. Mas sua música não funcionava porque as pessoas insistiam em ficar quietas prestando atenção ao seu desempenho. Daí ele gritava nervoso: "Falem alguma coisa! Mexam-se! Não fiquem aí parados só escutando!". Na época sua ideia pareceu uma piada.

Música de Eric Satie

  • Música Minimalista
   A proposta original dos minimalistas era de influenciar o ouvinte não pelo plano emocional ou intelectual, mas um plano acima, o intuitivo, estimulando suas ondas cerebrais a "entrar em alfa", isto é, assumir um padrão típico de estados de meditação do Yôga.
Algumas das características da música minimalista são o uso de repetição, frequentemente de pequenos trechos, com pequenas variações através de grandes períodos de tempo; estaticidade, na forma de tons executados durante um longo tempo e ritmos quase hipnóticos.

  • Música de Mobília
   A Música de Mobília de Erik Satie incorpora elementos da música minimalista. O seu andamento baseia-se em repetições, supondo-se um esvaziamento de qualquer tipo de expressividade, em favor da neutralidade. O ouvinte não necessita mais de uma passividade para captar a composição, ele torna-se parte dela, pois é necessária sua presença corporal para a produção dos ruídos característicos da vida e para, assim, realizar a obra em sua totalidade.
É válido lembrar que a ideia de "música de mobília" iria ser abordada mais tarde pelo teórico musical experimentalista John Cage. Sua obra mais famosa, 4'33'', nos faz refletir sobre a importância do silêncio, assim como sua própria inexistência e a incorporação do som ambiente como parte da obra, ou melhor, como foco da obra.

Brian Eno

   Brian Peter George St. Jean le Baptiste de la Salle Eno, nascido em 15 de maio de 1948, Woodbridge, Inglaterra. É músico, compositor e produtor musical, um dos maiores responsáveis pelo desenvolvimento da Ambient Music.

   Famoso pelo uso de sintetizadores, utilizando-os em diversos trabalhos, como nos dois primeiros álbuns do grupo Roxy Music.

   1978 foi o ano que o termo 'ambiente music' foi cunhado, com o seu álbum 'Ambient 1: Music for airports', onde definiu sua música como: "feita para alcalmar e pensar".
   Entre 1973 e 1977 Eno compôs 4 álbuns solo. Em 1983 ele compôs a trilha sonora do filme: 'Apollo', documentário onde teria apenas a música de Eno junto com imagens. Houve algumas alterações no filme, seu nome passou para 'For all mankind', foi adicionado narrativas e filmes, onde a trilha sonora de Eno era usada com menos frequência. A atmosfera passada por Eno nesse álbum foi algo que o homem até então não havia sentido, ouvido.

   Nos anos entre 1977-1979 Eno trabalhou junto com David Bowie na 'Trilogia de Berlin' (nos álbuns: 'Low', 'Heroes' e 'Lodger'). 1994 foi o ano de Brian trabalhar para a Microsoft, compondo os sons do novo Windows 95. Em 2007 e 2011 Brian trabalhou junto com Coldplay nos álbuns: 'Viva la vida or death and all his friends' e 'Mylo Xyloto'). 2008 foi a vez da EAGames, Eno compôs a trilha sonora do jogo 'Spore'.

   Brian Eno também desenvolveu aplicativos de música generativa para IOS, chamados 'Bloom',  'Air', 'Life' e 'Trope'. Onde o intuito é você clicar na tela e dependendo de onde clicar e quanto tempo, fará um som diferente.

   Além desses aplicativos, Eno fez um jogo de cartas, como se fosse uma adaptação do oráculo chinês I-Ching. Um baralho de cartas recomendando, aleatoriamente, estratégias artísticas para solucionar dilemas. Aqui vão alguns exemplos de cartas : 'Coloque o problema em palavras tão claras quanto puder.' 'Apenas um elemento para cada tipo.' 'O que seu melhor amigo faria?' 'O que aumentar? O que reduzir?' 'Tente imitar!' 'Honre um erro como uma intenção escondida.' 'Não tenha medo de clichês.' 'Não faça nada durante o maior tempo possível.'

   “Essas cartas podem ser usadas como um pacote, ou retirando uma única carta do monte quando um dilema ocorre em uma situação de trabalho. Neste caso se confia na carta mesmo que não fique claro se ela é apropriada”.

   Vamos falar um pouco sobre a arte generativa.
   Um computador cria trabalhos únicos a partir de parâmetros fixos definidos pelo artista/programador, que define os campos de possibilidade.

   Não há controle absoluto sobre a “obra final”, fazendo gerar uma arte aleatória.

   O papel de Brian Eno foi adaptar a ideia de John Cage (a música generativa) para o ambiente atual.

   “A música generativa tem alguns dos benefícios de ambos seus ancestrais. Como
a música gravada, ela é livre de limitações de hora e lugar – você pode ouvi-la quando e onde quiser. E ela confere uma das outras grandes vantagens da forma gravada: pode ser composta empiricamente. Com isso, quis dizer que você pode ouvir a música ao trabalhar com ela – ela não sofre com o prolongado ‘loop’ de feedback que é característico da música com partitura e desempenhada”.


Brian Eno - An Ending (Ascent)

Windows 95 theme

Grupo: Cíntia Inafuko, Marcio Raimo, Valdinei Rocha

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